Centrais vão propor ao governo criação de fundo para reduzir rotatividade no mercado de trabalho

Agência Brasil

As centrais sindicais pretendem apresentar ao governo federal um conjunto de propostas para combater a alta rotatividade no mercado de trabalho e evitar possíveis mudanças no seguro desemprego e no abono salarial. Uma delas propõe a criação de um fundo garantidor, que seria financiado pelo repasse do adicional de 10% da multa sobre o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e gerido pelo governo, centrais sindicais e empresários.

“As empresas que praticam rotatividade maior do que a média do seu setor deveriam contribuir mais com este fundo”, disse o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, durante entrevista coletiva realizada na tarde de ontem (18), em São Paulo.

Participaram ainda os presidentes da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Wagner Gomes; da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah; e da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), Ubiraci Dantas de Oliveira; além do secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves e o secretário de Comunicação da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), Nailton Francisco.

A ideia é que, em momentos de crise, as empresas que estão em dificuldades possam recorrer ao fundo, explicou Vagner Freitas. “Fazemos a estimativa que essa pequena medida geraria R$ 3 bilhões ao ano [aportados no fundo]”, disse.

A inspiração para a criação do fundo vem do modelo alemão. De acordo com as centrais sindicais, quando surgem dificuldades econômicas, as empresas alemãs reduzem a jornada de trabalho ou interrompem totalmente a produção, e os salários dos trabalhadores são custeados por esse fundo. No próximo dia 23, representantes das centrais devem visitar a Alemanha para entender melhor o funcionamento desse fundo.

Segundo o presidente da CUT, as centrais já encaminharam um pedido de audiência com a presidenta da República Dilma Rousseff e com o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, para apresentar as propostas.

Um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apontou que a rotatividade da mão de obra no país atingiu 53,8% em 2010. Descontados os desligamentos a pedido do trabalhador, aposentadoria e falecimento, a taxa chega a 37,28%. “Há dados que demonstram que 126 mil estabelecimentos [que representam 5,8% do total do país] são responsáveis por 63% dos desligamentos, o que demonstra que demitir no Brasil é fácil e barato”, disse Freitas.

Outra proposta a ser apresentada ao governo prevê que as empresas que apresentem baixa taxa de rotatividade de trabalhadores possam ter preferência em licitações. “Não se pode, de forma nenhuma, [permitir que] empresas que estabelecem muitas demissões e com alta rotatividade, maior do que a média do seu setor, participem de licitações públicas ou tenham acesso a financiamento público. Deveria ter uma medida que, quando as empresas praticam isso [alta rotatividade], elas não possam ter acesso a esse tipo de financiamento”, observou o presidente da CUT.

Entre as propostas também estão o incentivo à organização por local de trabalho, de forma que conflitos internos sejam resolvidos dentro da própria empresa, e a ratificação da Convenção 158, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), segundo a qual a empresa terá que comunicar com antecedência e justificar as razões para a demissão.