Agência Brasil
O custo do milho nos mercados nacional e internacional, com a
forte alta provocada pela quebra de safra nas principais regiões produtoras do
grão que sofreram com a seca este ano, como os Estados Unidos e o Sul do Brasil,
tem pressionado fortemente o mercado de carnes. Ao lado da soja (farelo de soja)
o produto é a principal matéria-prima para a produção de carne bovina, suína e
de aves nos Estados Unidos e de aves e suínos no Brasil.
O preço da saca de milho chegou a quase R$ 35 e o da soja a R$ 85, em média.
O preço mínimo, usado como referência de mercado para garantia de aquisição pelo
governo federal, foi R$ 13,02 para a saca de 60 quilos de milho e R$ 22,87 para
a saca de soja.
No Brasil, onde a produção de aves e suínos é mais sensível ao problema, o
governo tem usado o estoque regulador para amenizar os impactos. De acordo com o
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), 1,2 milhão de
toneladas de milho estão disponíveis para regulação. Parte desse estoque tem
sido disponibilizada no mercado a preços subsidiados em relação aos atuais.
As regiões Nordeste e Sul do país, que mais sofreram com a estiagem e que têm
sentido mais fortemente os impactos dos preços de grãos na produção de carne,
são prioridade.
Com a modalidade denominada Venda Balcão, voltada para pequenos produtores, o
governo se compromete com a entrega das sacas comercializadas. “Mas estamos com
problemas [nessa modalidade] porque a Conab [Companhia Nacional de
Abastecimento] tem feito leilões de frete. Com o superaquecimento do mercado de
frete, a Conab não está conseguindo contratar caminhões”, explicou Edilson
Guimarães, diretor do Departamento de Comercialização e de Abastecimento
Agrícola e Pecuário do Mapa.
Guimarães acrescentou que pela modalidade de Venda de Estoques Públicos
[VEP], os produtores compram e levam o produto a preços mais baixos. “Na última
quinta-feira (30), das 30 mil toneladas de milho que disponibilizamos, vendemos
18 mil para o Nordeste e Norte do país. Na próxima quinta-feira (6), vamos
ofertar mais 30 mil toneladas e aí poderão entrar os produtores de Santa
Catarina e do Rio Grande do Sul”, disse.
As operações serão realizadas até o fim de dezembro, de acordo com a portaria
que viabilizou as medidas. Para os produtores nordestinos, estão reservadas 400
mil toneladas de milho, e para os produtores do Sul, 200 mil toneladas.
Guimarães explicou que esse volume ainda pode aumentar e que o governo vai
manter as medidas de regulação depois do período previsto pela portaria.
Ainda assim, o próprio governo admite que o apoio não é suficiente para
regularizar o mercado como um todo. O volume estocado e disponibilizado a baixo
custo é residual ante a histórica quebra da safra norte-americana, estimada em
mais de 130 milhões de toneladas de soja e milho.
“Não há como suprir o mercado todo. O preço de carnes ainda vai se manter e é
o mercado que vai ajustar esse preço. Não temos condições de abastecer todo o
mercado brasileiro com preço mais baixo e não é questão de ter ou não estoque”,
explicou Guimarães.
Ainda que as medidas sejam voltadas prioritariamente para os produtores
nordestinos e sulistas, agricultores do Centro-Oeste também têm conseguido
adquirir milho e soja a preços mais baixos do que os cobrados no mercado.
Na unidade da Conab do Distrito Federal, a saca de milho tem sido
comercializada a R$ 22. Do ponto de vista de produtores que têm conseguido se
beneficiar das medidas de regulação, como Arnaldo Figueiredo, a atual crise de
desabastecimento pode ser uma oportunidade estratégica para outros segmentos da
cadeia.
“Sendo uma crise global, torna-se uma oportunidade para nós, que praticamos
bovinocultura de leite e corte com menos dependências desses insumos. É uma
oportunidade de retomar mercados perdidos”, avaliou.
Figueiredo ainda destacou que os frigoríficos tendem a adotar uma estratégia
com prioridade às exportações, “em detrimento do próprio mercado interno”. A
principal explicação é a queda do mercado bovino norte-americano, maior
dependente de insumos como milho e soja e, por isso, com custo de produção mais
onerado.